Sou Uma Criança, Não Entendo Nada
(Arnaldo Antunes)
Antigamente quando eu me excedia
Ou fazia alguma coisa errada
Naturalmente minha mãe dizia:
"Ele é uma criança, não entende nada"...
Por dentro eu ria
Satisfeito e mudo
Eu era um homem
E entendia tudo...
Hoje só com meus problemas
Rezo muito, mas eu não me iludo
Sempre me dizem quando fico sério:
"Ele é um homem e entende tudo"...
Por dentro com
A alma tarantada
Sou uma criança
Não entendo nada...
Para o vídeo, clique aqui
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
El secreto de sus ojos *
Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor, Sempre houvera, no planeta do pequeno príncipe, flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas, e que não ocupavam lugar nem incomodavam ninguém. Apareciam certa manhã na relva, e já à tarde se extinguiam. Mas aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. Podia ser uma nova espécie de baobá. Mas o arbusto logo parou de crescer, e começou então a preparar uma flor. O principezinho, que assistia à instalação de um enorme botão, bem sentiu que sairia dali uma aparição miraculosa; mas a flor não acabava mais de preparar-se, de preparar sua beleza, no seu verde quarto.
Escolhia as cores com cuidado. Vestia-se lentamente, ajustava uma a uma suas pétalas. Não queria sair, como os cravos, amarrotada. No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.
E ela, que se preparara com tanto esmero, disse, bocejando:
- Ah! eu acabo de despertar. . . Desculpa... Estou ainda toda despenteada...
O principezinho, então, não pôde conter o seu espanto:
- Como és bonita!
- Não é? respondeu a flor docemente. Nasci ao mesmo tempo em que o sol...
O principezinho percebeu logo que a flor não era modesta. Mas era tão comovente!
- Creio que é hora do almoço, acrescentou ela. Tu poderias cuidar de mim...
E o principezinho, embaraçado, fora buscar um regador com água fresca, e servira à flor.
Assim, ela o afligira logo com sua mórbida vaidade. Um dia, por exemplo, falando dos seus quatro espinhos, dissera ao pequeno príncipe:
- É que eles podem vir, os tigres, com suas garras!
- Não há tigres no meu planeta, objetara o principezinho. E depois, os tigres não comem erva.
Não sou uma erva, respondera a flor suavemente.
Perdoa-me...
Não tenho receio dos tigres, mas tenho horror das correntes de ar. Não terias acaso um pára-vento?
"Horror das correntes de ar... Não é muito bom para uma planta, notara o principezinho. É bem complicada essa flor...” À noite me colocarás sob a redoma. Faz muito frio no teu planeta. Está mal instalado.
De onde eu venho...
Mas interrompeu-se de súbito.
Viera em forma de semente. Não pudera conhecer nada dos outros mundos. Humilhada por se ter deixado apanhar numa mentira tão tola, tossiu duas ou três vezes, para pôr a culpa no príncipe:
- E o pára vento?
- Ia buscá-lo. Mas tu me falavas...
Então ela redobrara a tosse para infligir-lhe remorso.
Assim o principezinho, apesar da boa vontade do seu amor, logo duvidara dela.
Tomara a sério palavras sem importância, e se tornara infeliz.
"Não a devia ter escutado - confessou-me um dia - não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me agastara, me devia ter enternecido”.
Confessou-me ainda:
"Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Deveria ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar."
(O Pequeno Príncipe, 1943)
E assim, depois de muito tempo nós desvendamos os segredos dos olhos das nossas amadas. Depois de tudo, entendemos que os olhos de uma flor nunca se calam. Suas palavras, comparadas a estes, nunca farão tanto sentido ou terão tantos significados. “Nunca se deve escutar as flores”.
* Título do excelente filme hispano-argentino, lançado em 2009, dirigido por Juan José Campanella. Para site oficial, clique aqui.
domingo, 13 de novembro de 2011
Cemitério para Insetos
Quando eu era criança, eu me envolvia em alguns projetos. Projetos meus, para serem realizados por mim mesmo. A maioria versava sobre desenhos e desenhar, minha eterna paixão adormecida, para a qual eu não dei atenção o suficiente e que acabou por se divorciar de mim (talvez eu escreva para ela qualquer dia desses para pedir reconciliação). A maioria dos projetos eram esses desenhos, que eram estorinhas de ação, comédia... aos quais eu nunca terminava. Antes disso, antes desse tipo de projeto artístico, meus projetos infantis tinham a ver com animais. De um deles, em especial, eu me lembro bem.
Era uma tarde. Chovia. A estação do ano, não me lembro. Ainda não me atentava para as épocas e nem para a poesia que há em escrever delimitando o tempo através delas. Se soubesse disso, aprisionaria essa memória futura a uma estação, a alguma sensação de frio ou calor, o que te ajudaria a se sentir como eu me sentia e a se transportar para onde eu estava. Mas eu tinha algo melhor que a poesia. Eu tinha a infância e você teve sua infância, o que sem dúvida te ajudará a se sentir como eu me sentia e irá te transportar para onde eu estava.
Era uma tarde. Chovia. Eu estava em casa com aquele tédio inerente às crianças. A chuva passou. Fui para o quintal. O quintal da minha casa era diferente do que é hoje. Ele tinha menos concreto e ajudado por todo o “naipe” bucólico do meu bairro, após a chuva, se tornava não um abrigo, mas uma passarela para inúmeros pequenos seres vivos que saiam para vadiar: eram os insetos.
Eu os observava encantado, quando vi um besouro morto. Aí foi quando tive minha idéia brilhante: “vou enterrá-lo. Vou enterrar todos os insetos mortos. Vou construir um cemitério de insetos”. E assim o fiz. Cavei uma pequena cova na terra úmida e coloquei o pequenino defunto. Coloquei também uma pedrinha, como se fosse a lápide, o epitáfio, sei lá. Cerquei um pequeno perímetro que seria a área do cemitério, compactei com os dedos a cova do defuntinho e esperei por mais óbitos. Entrei em casa, e esperei. Impaciente, saí novamente. Revirei o quintal inteiro procurando cadáveres. Nada. Eu fiquei irritado. Ninguém mais morria, só porque eu tinha feito um cemitério. Eu me sentia como O Bem Amado e como Odorico Paraguaçu, eu tive que tomar minhas providências. Ora, se ninguém morria por vontade própria eu tinha que forçá-los: foi aí que começou a matança. Naquela mesma tarde meu cemitério de insetos estava sem mais vagas. A mini vida natural do meu quintal nunca se esquecerá daquele terrível dia.
...
Hoje, faz muito calor na primavera baiana. Uma borboleta me fez lembrar daquele dia fatídico, não porque ela estava morta ou porque eu a matei, mas porque eu apenas a olhei.
Saí na varanda e essa borboleta se aproximou e voou ao meu redor e voou mais e continuou voando. E eu apenas olhei. Nem sequer estendi a mão para tentar tocá-la. Somente olhar para aquele pedacinho de papel colorido voando como se estivesse a sorte do vento me satisfez. Quando criança isso não me bastaria. Provavelmente eu ia tentar tocá-la, capturá-la, matá-la. Olhar não seria suficiente. Eu iria querer a borboleta sempre, sem saber que o “sempre” iria fazer exatamente eu não querê-la mais. A falta da borboleta me faz querer olhar para a borboleta. Se eu a tocasse, poderia atrapalhar seu vôo ou danificar suas frágeis asas. Se eu a matasse ela não voaria mais. Ela estaria junto com os outros na minha macabra brincadeira de criança, enterrada no meu quintal. Esses cadáveres não brotarão e nem darão flores como os de T.S. Eliot. Esses insetos mortos no quintal só servem para comprovar a natureza ingenuamente perversa das crianças e para me ajudar em uma metáfora simples sobre o amor e sobre a admiração: Liberdade para a coisa amada, ao seu tempo ela voltará e você poderá admirá-la de novo. Ao seu tempo ela voltará e voará a seu redor sem te pedir coisa alguma. Você entenderá isso e dirá para ela: ”tudo certo amor, eu não vou atrapalhar seu vôo".
Era uma tarde. Chovia. A estação do ano, não me lembro. Ainda não me atentava para as épocas e nem para a poesia que há em escrever delimitando o tempo através delas. Se soubesse disso, aprisionaria essa memória futura a uma estação, a alguma sensação de frio ou calor, o que te ajudaria a se sentir como eu me sentia e a se transportar para onde eu estava. Mas eu tinha algo melhor que a poesia. Eu tinha a infância e você teve sua infância, o que sem dúvida te ajudará a se sentir como eu me sentia e irá te transportar para onde eu estava.
Era uma tarde. Chovia. Eu estava em casa com aquele tédio inerente às crianças. A chuva passou. Fui para o quintal. O quintal da minha casa era diferente do que é hoje. Ele tinha menos concreto e ajudado por todo o “naipe” bucólico do meu bairro, após a chuva, se tornava não um abrigo, mas uma passarela para inúmeros pequenos seres vivos que saiam para vadiar: eram os insetos.
Eu os observava encantado, quando vi um besouro morto. Aí foi quando tive minha idéia brilhante: “vou enterrá-lo. Vou enterrar todos os insetos mortos. Vou construir um cemitério de insetos”. E assim o fiz. Cavei uma pequena cova na terra úmida e coloquei o pequenino defunto. Coloquei também uma pedrinha, como se fosse a lápide, o epitáfio, sei lá. Cerquei um pequeno perímetro que seria a área do cemitério, compactei com os dedos a cova do defuntinho e esperei por mais óbitos. Entrei em casa, e esperei. Impaciente, saí novamente. Revirei o quintal inteiro procurando cadáveres. Nada. Eu fiquei irritado. Ninguém mais morria, só porque eu tinha feito um cemitério. Eu me sentia como O Bem Amado e como Odorico Paraguaçu, eu tive que tomar minhas providências. Ora, se ninguém morria por vontade própria eu tinha que forçá-los: foi aí que começou a matança. Naquela mesma tarde meu cemitério de insetos estava sem mais vagas. A mini vida natural do meu quintal nunca se esquecerá daquele terrível dia.
...
Hoje, faz muito calor na primavera baiana. Uma borboleta me fez lembrar daquele dia fatídico, não porque ela estava morta ou porque eu a matei, mas porque eu apenas a olhei.
Saí na varanda e essa borboleta se aproximou e voou ao meu redor e voou mais e continuou voando. E eu apenas olhei. Nem sequer estendi a mão para tentar tocá-la. Somente olhar para aquele pedacinho de papel colorido voando como se estivesse a sorte do vento me satisfez. Quando criança isso não me bastaria. Provavelmente eu ia tentar tocá-la, capturá-la, matá-la. Olhar não seria suficiente. Eu iria querer a borboleta sempre, sem saber que o “sempre” iria fazer exatamente eu não querê-la mais. A falta da borboleta me faz querer olhar para a borboleta. Se eu a tocasse, poderia atrapalhar seu vôo ou danificar suas frágeis asas. Se eu a matasse ela não voaria mais. Ela estaria junto com os outros na minha macabra brincadeira de criança, enterrada no meu quintal. Esses cadáveres não brotarão e nem darão flores como os de T.S. Eliot. Esses insetos mortos no quintal só servem para comprovar a natureza ingenuamente perversa das crianças e para me ajudar em uma metáfora simples sobre o amor e sobre a admiração: Liberdade para a coisa amada, ao seu tempo ela voltará e você poderá admirá-la de novo. Ao seu tempo ela voltará e voará a seu redor sem te pedir coisa alguma. Você entenderá isso e dirá para ela: ”tudo certo amor, eu não vou atrapalhar seu vôo".
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Codex
Passe de mágica
Salte no final
Num lago límpido
Ninguém por perto
Só libélulas
Voando pelas margens
Ninguém se fere
Você não fez nada errado
Deslize suas mãos
Salte no final
As águas são límpidas
E inocentes
As águas são límpidas
E inocentes
Vídeo (não oficial) - Codex - Radiohead (The King of Limbs, 2011)
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Devaneios sobre aspas no amor
Texto escrito em uma agenda velha que encontrei na última casa abandonada que eu inventei:
Tudo que eu preciso é acertar seu ritmo, para não ter que me esforçar para te alcançar nem ter que parar pra esperar você.
Tudo o que eu preciso é descobrir porque o sorriso dela é em câmera lenta, assim como o seu choro, assim como seu tudo.
Eu só queria ver um único romance de trás pra frente, um desses que começam com lágrimas e corações partidos e terminam na conquista, queria ver isso pelo menos uma vez na vida, em um sonho que eu sonhei para mim mesmo.
Tudo que eu queria era pensar palavras de amor tão bonitas que as pessoas quisessem tatuá-las no braço, nas costas... as meninas, nos pés.
Eu queria agora era lamber seu cérebro e sentir o gosto de seus pensamentos. Não para sabê-los, só pra degustar um pouco da sua essência.
Eu queria também, encher um balão de lágrimas e esperar você passa em minha porta. Aí eu o jogaria bem na sua cara... mas isso já seria maldade. Eu queria saber esperar.
Eu queria uma linha e uma agulha tão poderosa que eu pudesse costurar minhas ideias umas as outras e me fizesse parar de pensar em libélula.
Eu queria acertar de vez em quando.
Eu queria não ter versos de músicas de amor dos outros ou versos dos outros sobre o amor em minha cabeça. Quero os meus próprios. Só os meus.
Tudo que queria mesmo é cheirar um amor novo, já que eu sei que amores têm cheiros. Amor de verdade cheira a sono! Amor mais ou menos cheira a perfume.
Flores colhidas têm cheiro estranho. Como dar flores pra alguém poderia ser romântico? Como cortar as partes mais belas de um vegetal e entregá-las pra murcharem e morrer na casa de alguém pode ser um sinal de apreço?
Se eu tivesse um jardim...
Eu tenho um espaço vazio no meu coração onde as aves do céu fazem ninho e as plantas silvestres fincam suas raízes. Eu tenho deslembranças em minha mente por conta da última ressaca do mar.
Eu tenho um espaço vazio no coração. Eu tenho deslembranças em minha mente. Ainda assim, existe algo em mim que nem eu e nem você conseguimos deixar de desejar.
Eu tenho tudo isso. Isso tudo me tem. Eu queria isso tudo e isso tudo me queria.
Se eu tivesse um jardim...
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Sacrosociossanto
Nessa semana, vendo uma entrevista do Pondé no Roda Viva me atentei para o tema. O seu discurso não se debruçou a esse respeito, mas ele citou isso em um emaranhado de idéias que vociferava ao final do programa. O tema é “o papel social do cristianismo”.
Enquanto citava alguma coisa sobre igreja (coisa que eu não me lembro), Luiz Felipe Pondé falou sobre esse papel questionador da igreja. Falou sobre os profetas que nas suas palavras faziam uma crítica social (ao povo) e também uma crítica ao governo (que seria o nosso Estado). Essa sua fala me fez pensar sobre o tema...
Falar do velho testamento é falar da “Bíblia que Jesus lia”. Portanto, mesmo que eu fale de cristianismo posso me reportar a alguns dos profetas para elucidar esse histórico de confrontação entre o que é proposto pela religião e a ordem social vigente. Mesmo com essa justificativa, o exemplo dos profetas já foi citado, então vamos nos ater ao cristianismo do Cristo.
“Dai a Cesar o que é de Cesar e Deus o que é de Deus”: talvez seja essa a maior contraproposta a um Estado laico presente no novo testamento. Não é a instalação de um Estado laico a proposta desse texto. A função social da igreja não é a que estamos acostumados a ouvir em intervalos de tempo regulares, de quatro em quatro anos pra ser mais exato. A função social da igreja não é a de indicar alguns de seus membros a tomarem partido na disputa eleitoral e dizer que “povo de Deus vota em homens de Deus”. A função social da igreja extrapola o âmbito da política local e pontual e envolve uma questão ideológica que talvez seja uma premissa da fé cristã.
“E não vos conformeis com este mundo”. Logo esse “mundo” que causa tanta confusão na cabeça das pessoas. Música “do mundo”. “Quando eu era “do mundo””... Mas não é mundo mesmo? É mundo sim. Mas é a maneira de mundo, é o modo de vida. Não é a distinção entre o “meu mundo”, que professo a fé cristã e o mundo deles, que não professam. É a inconformidade em relação ao (E)estado das coisas. E nesse sentido, a crítica social que o cristianismo suscita é muito contundente. “Não ameis o mundo”. O modo de vida está distorcido, invente um novo pra você. Um que seja mais saudável. Um que seja menos afoito por dinheiro, carreira e alguns outros bichos.
Em um segundo momento, a função social da igreja sai do discurso e vai para a prática: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo” (Tg 1:27). Isso é uma questão de estatuto da criança e de previdência social. É claro que na época a sociedade não estava organizada de modo a atender a necessidade dessa camada da sociedade: os desamparados. Assim, o cuidado com o próximo é um temática recorrente no N.T., onde assuntos como as esmolas e as visitas são abordados como pré-requisitos para o exercício da “boa religião”. Bom, agora eu terei que sair visitando e dando esmolas? Isso é com você. Mas aos membros de igrejas é indispensável saber que como instituição que foi fundada pelo amor, precisa irradiar amor. Amor em obras. Amor em assistência social sim! Pagamos impostos e uma parte (ainda que menor que a necessária ou suficiente, mas mal utilizada) vai para programas assistencialistas. E o dízimo? E a oferta?
Quem gosta da democracia não pode esquecer que se esta é construída sobre uma base de desigualdade social não é democracia. Quem gosta do cristianismo deve lembrar o que Jesus disse para o jovem rico (aquele lance do camelo). Ou seja, Jesus 1 X 0 Teologia da Prosperidade. Então agora eu serei franciscano? Não é bem assim, ou é, se você assim desejar ou se quiser produzir cerveja boa. A questão é que os cristãos devem estar atentos a realidade, apesar de que o reino não é deste mundo. Manter o equilíbrio, se atentar para as questões socias, fazer o possível para a construção de uma sociedade mais humana e se possível, com um toque de divindade. Inquietação em relação à temática social: passe adiante.
Enquanto citava alguma coisa sobre igreja (coisa que eu não me lembro), Luiz Felipe Pondé falou sobre esse papel questionador da igreja. Falou sobre os profetas que nas suas palavras faziam uma crítica social (ao povo) e também uma crítica ao governo (que seria o nosso Estado). Essa sua fala me fez pensar sobre o tema...
Falar do velho testamento é falar da “Bíblia que Jesus lia”. Portanto, mesmo que eu fale de cristianismo posso me reportar a alguns dos profetas para elucidar esse histórico de confrontação entre o que é proposto pela religião e a ordem social vigente. Mesmo com essa justificativa, o exemplo dos profetas já foi citado, então vamos nos ater ao cristianismo do Cristo.
“Dai a Cesar o que é de Cesar e Deus o que é de Deus”: talvez seja essa a maior contraproposta a um Estado laico presente no novo testamento. Não é a instalação de um Estado laico a proposta desse texto. A função social da igreja não é a que estamos acostumados a ouvir em intervalos de tempo regulares, de quatro em quatro anos pra ser mais exato. A função social da igreja não é a de indicar alguns de seus membros a tomarem partido na disputa eleitoral e dizer que “povo de Deus vota em homens de Deus”. A função social da igreja extrapola o âmbito da política local e pontual e envolve uma questão ideológica que talvez seja uma premissa da fé cristã.
“E não vos conformeis com este mundo”. Logo esse “mundo” que causa tanta confusão na cabeça das pessoas. Música “do mundo”. “Quando eu era “do mundo””... Mas não é mundo mesmo? É mundo sim. Mas é a maneira de mundo, é o modo de vida. Não é a distinção entre o “meu mundo”, que professo a fé cristã e o mundo deles, que não professam. É a inconformidade em relação ao (E)estado das coisas. E nesse sentido, a crítica social que o cristianismo suscita é muito contundente. “Não ameis o mundo”. O modo de vida está distorcido, invente um novo pra você. Um que seja mais saudável. Um que seja menos afoito por dinheiro, carreira e alguns outros bichos.
Em um segundo momento, a função social da igreja sai do discurso e vai para a prática: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo” (Tg 1:27). Isso é uma questão de estatuto da criança e de previdência social. É claro que na época a sociedade não estava organizada de modo a atender a necessidade dessa camada da sociedade: os desamparados. Assim, o cuidado com o próximo é um temática recorrente no N.T., onde assuntos como as esmolas e as visitas são abordados como pré-requisitos para o exercício da “boa religião”. Bom, agora eu terei que sair visitando e dando esmolas? Isso é com você. Mas aos membros de igrejas é indispensável saber que como instituição que foi fundada pelo amor, precisa irradiar amor. Amor em obras. Amor em assistência social sim! Pagamos impostos e uma parte (ainda que menor que a necessária ou suficiente, mas mal utilizada) vai para programas assistencialistas. E o dízimo? E a oferta?
Quem gosta da democracia não pode esquecer que se esta é construída sobre uma base de desigualdade social não é democracia. Quem gosta do cristianismo deve lembrar o que Jesus disse para o jovem rico (aquele lance do camelo). Ou seja, Jesus 1 X 0 Teologia da Prosperidade. Então agora eu serei franciscano? Não é bem assim, ou é, se você assim desejar ou se quiser produzir cerveja boa. A questão é que os cristãos devem estar atentos a realidade, apesar de que o reino não é deste mundo. Manter o equilíbrio, se atentar para as questões socias, fazer o possível para a construção de uma sociedade mais humana e se possível, com um toque de divindade. Inquietação em relação à temática social: passe adiante.
quinta-feira, 28 de julho de 2011
Pelo nome certo *
I
“Eu tenho nome. E quem não tem”? Os que o sabem o chamam. Alguns o diminuem. Os que não o sabem me chamam de “ei”, “moço”, “esse”, “aquele”, “032****”... Aqueles que gostariam de sabê-lo, o perguntam. As coisas têm nome. As que não têm, não existem ou não foram “trazidas a existir” ainda. Se você chamar uma cadeira de ventilador ou uma pá de balde, provavelmente, não se fará entender por não ter designado o objeto pelo nome correto, ou pelo menos, pelo nome que lhe é usualmente atribuído. Contudo, “As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças”, e por isso, a educação tem importante papel nesse processo nomeador.
No começo de seu desenvolvimento intelectual a criança aprende a chamar as coisas por nomes. Aprende sobre convenções presentes na gramática e na aritmética. Aprende sobre símbolos como as letras e os números e sobre seus significados. Aprende sobre as cores e suas variações. Aprende sobre os sons das coisas. Em suma, aprende a chamar as coisas pelo nome, ou por algum nome. Assim, a criança aprende que não pode “escutar a cor dos passarinhos”, como escreve Manoel de Barros, porque o “verbo escutar não funciona para cor, mas para o som”. Assim, o mundo fica etiquetado e arquivado por afinidades e funções. Assim, a vida é etiquetada junto com o mundo e a língua é a algema que prende as coisas aos seus conceitos.
Indubitavelmente, “nomeare humanum est”. Contudo, essa coisa de atribuir nomes e de aprender nomes é apenas um passo necessário para alcançar um estágio mais elevado, mas ainda não definitivo, da caminhada que culmina na elevação do espírito, por assim dizer. É preciso depois de ter aprendido, desaprender.
II
“No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo”.
Autores como Guimarães Rosa e Manuel de Barros escrevem em seu próprio idioma. Entretanto, um olhar biográfico mais atento revelará que eles só conseguiram reinventar a língua portuguesa ao seu modo porque a conheciam (e conheciam outras línguas), profundamente. Eles “souberam muito sobre”, antes de “não querer mais saber de”. E isso é revelado no “Livro das Ignorãnças”, onde M. Barros deixa claro o descomprometimento de sua poesia com as convenções da língua. Depois de saber ele quis ignorar, se desprender dos nomes. Depois de saber sobre a gramática, ele queria fundar a “agramática”. E fundou.
Tomar o que “é”, e que só “é” porque foi nomeado e atribuir a isso um novo significado, um significado que melhor lhe agrade, e estar, dessa forma, um tanto quanto livre do “assim das coisas”. Criar. Transcender. Esse é um começo, mas o caminho não se encerra no rompimento. E nem poderia ser assim.
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. E quando tiver nome? O que é mesmo que se quer? Será que esse desejo não se encerra apenasmente no desejo? Desse modo, saindo da agramática de M. de Barros e adentrando em um território de sensações, virtudes, sentimentos e afins, o “não nomear” se torna mais complicado. O “não nomear” se tornaria, sem o tanto necessário de equilíbrio, um regresso à adolescência da alma, por prevê uma busca somente pela busca, uma liberdade presa a inconformidade (porque se eu sou livre, sou livre para aceitar do mesmo modo que o sou para discordar) e uma crítica que só geraria mais crítica. Uma liberdade assim nos levaria a adolescência da alma e o nosso objetivo na condição de existentes humanos é elevar nossos espíritos a se expandirem o máximo possível para que finalmente possamos nos tornar crianças novamente.
III
O caminho não se encerra rompimento. E nem poderia ser assim. O que queremos é reestabelecer o elo entre as coisas. Já rompemos. O que desejamos é ligar. Não necessariamente ligar de novo (religare), mas ligar melhor.
Aprendemos quando crianças. Desaprendemos – ou aprendemos a desaprender – em um segundo momento, e agora, finalmente, iremos aprender como se fosse a primeira vez. E finalmente, iremos tomar o exemplo dos petizes: “A criança é a inocência, é o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação”, como disse Nietzsche sobre a terceira transformação do espírito em seu Also sprach Zarathustra.
Quando nascemos somos revirados. “Somos revirados. Assim nascemos. Reestabelecer a ordem é desfazer em nós a criatura”, é o que diz Simone Weil, em princípio, sobre a morte do “eu” e sobre um “tornar-se nada”. Reestabelecer a ordem que já foi quebrada pelo nascimento e pela educação que recebemos na infância. Ordem essa que buscamos erroneamente na adolescência da alma ao querer se desprender (“não nomear”) e sempre romper, sempre lutar, sempre desassossegar. Ordem que alcançamos nesse terceiro estágio da alma que chamarei de mais infância (já que o termo segunda infância se empregaria aos estágios cognitivos conceituados pela psicopedagogia).
“NÃO, NÃO MAIS BUSCAR: que seja esta, voz da madureza, a essência do seu grito”. As palavras iniciais da sétima elegia de Rilke combinam com esse sossego perene da mais infância. Sossego de não chamar “o mal de bem”. Sossego de não querer saber disso. Sossego de natureza por ter encontrado a essência das coisas, suas relações e saber o que elas são e dar a elas o nome e chamá-las pelo nome. Que coisas? Todas elas. Nós mesmos e todo o resto, sendo todo o resto o que é mais importante e nós mesmos o “todo o resto”, reconhecendo assim, o nada que somos e a grandiosidade do mundo (coisas) ao nosso redor.
Ah, a mais infância. Estágio onde a “energia atada” se torna “energia livre capaz de amoldar-se à verdadeira relação das coisas” (Weil). Estágio onde o “eu” não incomoda mais/tanto. E nem poderia, já que a criança é sempre o recomeço, já que a criança é toda recomeço. Justiça impregnada de amor universal que encontra a igualdade entre as coisas “pois nenhuma vale sem amor, pois todas valem pelo amor”, como disse Comte-Sponville revisando as palavras de Weil. Nesse “fim”, se é livre de si e livre dos conceitos do/no mundo. Nesse “fim” se pode chamar as coisas, cada uma pelo seu nome... E só assim, chamar as coisas pelo nome certo.
*Este texto consta mais como um escopo de uma discussão muito maior. Não pude (não quis, talvez) abarcar todos as nuances inerentes as idéias presentes neste, como por exemplo, as de cunho semântico e etimológico.
“Eu tenho nome. E quem não tem”? Os que o sabem o chamam. Alguns o diminuem. Os que não o sabem me chamam de “ei”, “moço”, “esse”, “aquele”, “032****”... Aqueles que gostariam de sabê-lo, o perguntam. As coisas têm nome. As que não têm, não existem ou não foram “trazidas a existir” ainda. Se você chamar uma cadeira de ventilador ou uma pá de balde, provavelmente, não se fará entender por não ter designado o objeto pelo nome correto, ou pelo menos, pelo nome que lhe é usualmente atribuído. Contudo, “As coisas que não têm nome são mais pronunciadas por crianças”, e por isso, a educação tem importante papel nesse processo nomeador.
No começo de seu desenvolvimento intelectual a criança aprende a chamar as coisas por nomes. Aprende sobre convenções presentes na gramática e na aritmética. Aprende sobre símbolos como as letras e os números e sobre seus significados. Aprende sobre as cores e suas variações. Aprende sobre os sons das coisas. Em suma, aprende a chamar as coisas pelo nome, ou por algum nome. Assim, a criança aprende que não pode “escutar a cor dos passarinhos”, como escreve Manoel de Barros, porque o “verbo escutar não funciona para cor, mas para o som”. Assim, o mundo fica etiquetado e arquivado por afinidades e funções. Assim, a vida é etiquetada junto com o mundo e a língua é a algema que prende as coisas aos seus conceitos.
Indubitavelmente, “nomeare humanum est”. Contudo, essa coisa de atribuir nomes e de aprender nomes é apenas um passo necessário para alcançar um estágio mais elevado, mas ainda não definitivo, da caminhada que culmina na elevação do espírito, por assim dizer. É preciso depois de ter aprendido, desaprender.
II
“No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo”.
Autores como Guimarães Rosa e Manuel de Barros escrevem em seu próprio idioma. Entretanto, um olhar biográfico mais atento revelará que eles só conseguiram reinventar a língua portuguesa ao seu modo porque a conheciam (e conheciam outras línguas), profundamente. Eles “souberam muito sobre”, antes de “não querer mais saber de”. E isso é revelado no “Livro das Ignorãnças”, onde M. Barros deixa claro o descomprometimento de sua poesia com as convenções da língua. Depois de saber ele quis ignorar, se desprender dos nomes. Depois de saber sobre a gramática, ele queria fundar a “agramática”. E fundou.
Tomar o que “é”, e que só “é” porque foi nomeado e atribuir a isso um novo significado, um significado que melhor lhe agrade, e estar, dessa forma, um tanto quanto livre do “assim das coisas”. Criar. Transcender. Esse é um começo, mas o caminho não se encerra no rompimento. E nem poderia ser assim.
“Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome”. E quando tiver nome? O que é mesmo que se quer? Será que esse desejo não se encerra apenasmente no desejo? Desse modo, saindo da agramática de M. de Barros e adentrando em um território de sensações, virtudes, sentimentos e afins, o “não nomear” se torna mais complicado. O “não nomear” se tornaria, sem o tanto necessário de equilíbrio, um regresso à adolescência da alma, por prevê uma busca somente pela busca, uma liberdade presa a inconformidade (porque se eu sou livre, sou livre para aceitar do mesmo modo que o sou para discordar) e uma crítica que só geraria mais crítica. Uma liberdade assim nos levaria a adolescência da alma e o nosso objetivo na condição de existentes humanos é elevar nossos espíritos a se expandirem o máximo possível para que finalmente possamos nos tornar crianças novamente.
III
O caminho não se encerra rompimento. E nem poderia ser assim. O que queremos é reestabelecer o elo entre as coisas. Já rompemos. O que desejamos é ligar. Não necessariamente ligar de novo (religare), mas ligar melhor.
Aprendemos quando crianças. Desaprendemos – ou aprendemos a desaprender – em um segundo momento, e agora, finalmente, iremos aprender como se fosse a primeira vez. E finalmente, iremos tomar o exemplo dos petizes: “A criança é a inocência, é o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação”, como disse Nietzsche sobre a terceira transformação do espírito em seu Also sprach Zarathustra.
Quando nascemos somos revirados. “Somos revirados. Assim nascemos. Reestabelecer a ordem é desfazer em nós a criatura”, é o que diz Simone Weil, em princípio, sobre a morte do “eu” e sobre um “tornar-se nada”. Reestabelecer a ordem que já foi quebrada pelo nascimento e pela educação que recebemos na infância. Ordem essa que buscamos erroneamente na adolescência da alma ao querer se desprender (“não nomear”) e sempre romper, sempre lutar, sempre desassossegar. Ordem que alcançamos nesse terceiro estágio da alma que chamarei de mais infância (já que o termo segunda infância se empregaria aos estágios cognitivos conceituados pela psicopedagogia).
“NÃO, NÃO MAIS BUSCAR: que seja esta, voz da madureza, a essência do seu grito”. As palavras iniciais da sétima elegia de Rilke combinam com esse sossego perene da mais infância. Sossego de não chamar “o mal de bem”. Sossego de não querer saber disso. Sossego de natureza por ter encontrado a essência das coisas, suas relações e saber o que elas são e dar a elas o nome e chamá-las pelo nome. Que coisas? Todas elas. Nós mesmos e todo o resto, sendo todo o resto o que é mais importante e nós mesmos o “todo o resto”, reconhecendo assim, o nada que somos e a grandiosidade do mundo (coisas) ao nosso redor.
Ah, a mais infância. Estágio onde a “energia atada” se torna “energia livre capaz de amoldar-se à verdadeira relação das coisas” (Weil). Estágio onde o “eu” não incomoda mais/tanto. E nem poderia, já que a criança é sempre o recomeço, já que a criança é toda recomeço. Justiça impregnada de amor universal que encontra a igualdade entre as coisas “pois nenhuma vale sem amor, pois todas valem pelo amor”, como disse Comte-Sponville revisando as palavras de Weil. Nesse “fim”, se é livre de si e livre dos conceitos do/no mundo. Nesse “fim” se pode chamar as coisas, cada uma pelo seu nome... E só assim, chamar as coisas pelo nome certo.
*Este texto consta mais como um escopo de uma discussão muito maior. Não pude (não quis, talvez) abarcar todos as nuances inerentes as idéias presentes neste, como por exemplo, as de cunho semântico e etimológico.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
A fantástica fábrica de diálogos: minha casa
Minha vó: - Bella, você já pediu alguma coisa a Deus?
Bella: - Já. Mas Ele num me deu de jeito nenhum...
Minha vó: - E o que foi que você pediu?
Bella: - Pedi pra aprender a nadar e pra ser mais obediente. Mas Ele num me deu de jeito nenhum...
Minha vó: - Mas você só tem 6 anos. Você ainda vai aprender a nadar.
Bella: - Mas Faniquita só tem 5 anos, 5 ANOS, e já sabe nadar...
...
Bella: - Luan, você já apareceu na televisão.
Luan: - Não.
Bella: - Meu pai já. Só que ele num robou nada não!
Bella: - Já. Mas Ele num me deu de jeito nenhum...
Minha vó: - E o que foi que você pediu?
Bella: - Pedi pra aprender a nadar e pra ser mais obediente. Mas Ele num me deu de jeito nenhum...
Minha vó: - Mas você só tem 6 anos. Você ainda vai aprender a nadar.
Bella: - Mas Faniquita só tem 5 anos, 5 ANOS, e já sabe nadar...
...
Bella: - Luan, você já apareceu na televisão.
Luan: - Não.
Bella: - Meu pai já. Só que ele num robou nada não!
quinta-feira, 26 de maio de 2011
A César o de César, a Deus o de Deus (distinções à parte)
Trecho extraído do tratado sobre “Desobediência Civil” de Henry David Thoreau (1817 – 1862), obra publicada em 1848 que influenciou inúmeros pensadores do século XIX e XX (além de continuar suscitando reflexões significativas, é claro).
Em sua crítica ao governo e à forma de organização do Estado onde vivia, o autor sugere o enfretamento a estes utilizando as armas disponíveis ao cidadão comum, como o não pagamento dos impostos, que seria o atestado final de desaprovação à “ordem” social vigente. No fragmento abaixo, Thoreau apresenta uma das possibilidades que fariam valer o seu discurso de desobediência civil e afirmação da liberdade individual: o “desapego” ao dinheiro, por assim dizer.
“(...) Se houvesse quem vivesse inteiramente sem usar o dinheiro, o próprio Estado hesitaria em exigir que ele lhe entregasse uma quantia. O homem rico, no entanto - e não pretendo estabelecer uma comparação invejosa -, é sempre um ser vendido à instituição que o enriquece. Falando em termos absolutos, quanto mais dinheiro, menos virtude; pois o dinheiro interpõe-se entre um homem e os seus objetivos e permite que ele os compre; obter alguma coisa dessa forma não é uma grande virtude. O dinheiro acalma muitas perguntas que de outra forma ele se veria pressionado a fazer; de outro lado, a única pergunta nova que o dinheiro suscita é difícil, embora supérflua: "Como gastá-lo?”Um homem assim fica, portanto, sem base para uma moralidade. As oportunidades de viver diminuem proporcionalmente ao acúmulo daquilo que se chama de "meios". A melhor coisa a ser feita em prol da cultura do seu tempo por um homem rico é realizar os planos que tinha quando ainda era pobre. Cristo respondeu aos seguidores de Herodes de acordo com a situação deles. "Mostrem-me o dinheiro dos tributos", disse ele; e um deles tirou do bolso uma moeda. Disse então Jesus Cristo: "Se vocês usam o dinheiro com a imagem de César, dinheiro que ele colocou em circulação e ao qual ele deu valor, ou seja, se vocês são homens do Estado e estão felizes de se aproveitar das vantagens do governo de César, então paguem-no por isso quando ele o exigir. Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"; Cristo não lhes disse nada sobre como distinguir um do outro; eles não queriam saber isso”.
Texto na íntegra dísponivel em PDF: Clique aqui
Ver também, Evangelho de São Marcos 12,13-17.
Em sua crítica ao governo e à forma de organização do Estado onde vivia, o autor sugere o enfretamento a estes utilizando as armas disponíveis ao cidadão comum, como o não pagamento dos impostos, que seria o atestado final de desaprovação à “ordem” social vigente. No fragmento abaixo, Thoreau apresenta uma das possibilidades que fariam valer o seu discurso de desobediência civil e afirmação da liberdade individual: o “desapego” ao dinheiro, por assim dizer.
“(...) Se houvesse quem vivesse inteiramente sem usar o dinheiro, o próprio Estado hesitaria em exigir que ele lhe entregasse uma quantia. O homem rico, no entanto - e não pretendo estabelecer uma comparação invejosa -, é sempre um ser vendido à instituição que o enriquece. Falando em termos absolutos, quanto mais dinheiro, menos virtude; pois o dinheiro interpõe-se entre um homem e os seus objetivos e permite que ele os compre; obter alguma coisa dessa forma não é uma grande virtude. O dinheiro acalma muitas perguntas que de outra forma ele se veria pressionado a fazer; de outro lado, a única pergunta nova que o dinheiro suscita é difícil, embora supérflua: "Como gastá-lo?”Um homem assim fica, portanto, sem base para uma moralidade. As oportunidades de viver diminuem proporcionalmente ao acúmulo daquilo que se chama de "meios". A melhor coisa a ser feita em prol da cultura do seu tempo por um homem rico é realizar os planos que tinha quando ainda era pobre. Cristo respondeu aos seguidores de Herodes de acordo com a situação deles. "Mostrem-me o dinheiro dos tributos", disse ele; e um deles tirou do bolso uma moeda. Disse então Jesus Cristo: "Se vocês usam o dinheiro com a imagem de César, dinheiro que ele colocou em circulação e ao qual ele deu valor, ou seja, se vocês são homens do Estado e estão felizes de se aproveitar das vantagens do governo de César, então paguem-no por isso quando ele o exigir. Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"; Cristo não lhes disse nada sobre como distinguir um do outro; eles não queriam saber isso”.
Texto na íntegra dísponivel em PDF: Clique aqui
Ver também, Evangelho de São Marcos 12,13-17.
Eu voltei para Maio de 1937
Vejo meus pais parados no baile de formatura da faculdade.
Vejo meu pai vagando sob o arco de granito ocre …
As telhas vermelhas luzindo feito placas de sangue atrás de sua cabeça.
Vejo minha mãe abraçando alguns livros leves, parada ao pé do pilar de tijolinhos …
Com os portões de ferro batido ainda abertos atrás dela, com suas lanças negras no ar de maio.
Eles vão se formar.
Eles vão se casar. São crianças, são tolos.
Só sabem que são inocentes, que nunca machucariam ninguém.
Quero ir até eles e dizer:
- “Parem, não façam isso.
Ela é a mulher errada, ele é o homem errado.
Vocês farão coisas que nunca imaginariam fazer.
Farão coisas ruins com seus filhos.
Vão sofrer de modos que nunca ouviram falar.
Vão querer morrer.”
Quero ir até eles sob o sol de fim de maio e dizer isto.
Mas eu não vou. Quero viver.
Pego os dois como bonecos de papel de homem e mulher e os esfrego pelo quadril feito lascas de pederneira para tirar faíscas deles.
Eu digo:
- Façam o que têm de fazer, e eu lhes direi tudo.
"I got back to 1937 May", by Sharon Olds,The Gold Cell (Knopf, 1987).
Vejo meu pai vagando sob o arco de granito ocre …
As telhas vermelhas luzindo feito placas de sangue atrás de sua cabeça.
Vejo minha mãe abraçando alguns livros leves, parada ao pé do pilar de tijolinhos …
Com os portões de ferro batido ainda abertos atrás dela, com suas lanças negras no ar de maio.
Eles vão se formar.
Eles vão se casar. São crianças, são tolos.
Só sabem que são inocentes, que nunca machucariam ninguém.
Quero ir até eles e dizer:
- “Parem, não façam isso.
Ela é a mulher errada, ele é o homem errado.
Vocês farão coisas que nunca imaginariam fazer.
Farão coisas ruins com seus filhos.
Vão sofrer de modos que nunca ouviram falar.
Vão querer morrer.”
Quero ir até eles sob o sol de fim de maio e dizer isto.
Mas eu não vou. Quero viver.
Pego os dois como bonecos de papel de homem e mulher e os esfrego pelo quadril feito lascas de pederneira para tirar faíscas deles.
Eu digo:
- Façam o que têm de fazer, e eu lhes direi tudo.
"I got back to 1937 May", by Sharon Olds,The Gold Cell (Knopf, 1987).
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Desfiles e misérias no final de abril*
Marcos Aurélio dos Santos Souza**
Do Palácio de Buckinghan à Abadia de Westminster, só riqueza e suntuosidade, do Campo Grande à Praça Castro Alves, só pobreza e miséria. Desfiles em mundos praticamente opostos repetem a nossa imensa realidade humana, paradoxal e triste, através de um figurino bem representativo. Lá, os chapéus, cabelos loiros ao vento, tiaras coloridas e os fabulosos bearskins da guarda real inglesa. Aqui, os cabelos crespos, guardas chuvas quebrados, que mal evitam a chuva insistente, mãos e bolsas nas cabeças para não estragar a “escova” e o “permanente”, boinas surradas e imundas da polícia militar, fingindo paciência com o trânsito caótico da Sete de Setembro e com as bolas vermelhas de palhaços, escondendo os narizes dos manifestantes.
Pela televisão e pelas ruas largas de Londres, 2 bilhões de pessoas acompanham ao casamento real britânico, como diz uma serelepe repórter da Globo; no comércio soteropolitano algumas dezenas de comerciários cansados e transeuntes se empurram em calçadas estreitas, desviando o olhar da passeata que mendiga atenção, repetindo, com indisfarçável cansaço, o jargão enfadonho do proletariado da educação. No alto, nas coberturas e nos imensos apartamentos do Campo Grande e Corredor da Vitória, a elite baiana não se importa com os bonecos gigantes e as placas em vermelho de Greve das universidades estaduais, e acompanha, em televisão de plasma, as notícias sobre a grande encenação real, o carnaval inglês, imaginando perfumes, os pradas, guccis, armanis, desfilando na passarela do mundo europeu (vontade de estar lá). O governador baiano, identificado com o primeiro mundo, na sua cobertura, versão baiana de palácio real, no alto de Ondina, desliga celular e telefone, para acompanhar “seus semelhantes” europeus - não saber de greve, vontade de ser príncipe, sentimento difuso de rei tropical, entre o pensamento de lord político á la Joaquim Nabuco e a filosofia de Maquiavel.
Lá em baixo, o mundo é diferente. O vermelho, um vermelho quase vinho, cardial, que em Buckinghan adorna os corpos do soldado e do príncipe William, acúmulo de sangue coagulado das chacinas bretãs, pinta a Avenida Sete na manifestação dos professores. Nessa chuva que cai hoje e derrete os morros, jogando barro em cima das pessoas das Cajazeiras e dos morros na capital baiana, o vermelho mais importante para o governador é o vermelho da cruz, que adorna a bandeira do Reino Unido.
O governador prefere viver nos sonhos do palácio de Ondina, na pompa inglesa, que parece antiga e tradicional, mas, como bem lembra os historiadores Hobsbawn e Ranger, foi forjada recentemente como símbolo de poder, inquestionável e cruel. Ele prefere viver na sua própria invenção de estado, cortando salários, impedindo as Universidades crescerem e os professores se aperfeiçoarem, dedicando seu tempo integral por um salário de miséria. Prefere viver no castelo de Caras da elite baiana, ideologicamente branca de olhos azuis, como a elite britânica.
Chove e inunda em todos nós uma sensação de que o mundo parou no século XVI. A elite política baiana imita a Europa, políticos brasileiros imitam nobres ingleses, como as mulheres brasileiras imitavam os chapéus das colonizadoras portuguesas no século XVI, os quais, distantes de qualquer moda ou senso estético, escondiam coros cabeludos empesteados de piolhos. “Wagner Nabuco Maquiavel”, nosso governador, quer ter seu desfile final, seu momento de príncipe em sua Copa de mentiras, quer mudar para Europa como Joaquim Nabuco sem sair do Brasil, a custa do sucateamento da educação. Sua única campanha é oferecer ao mundo, uma farsa, um show, uma ilusão de felicidade durante um mês de futebol, e deixar o Estado da Bahia tão pobre e miserável quanto estava antes.
Nossa campanha, a de professores e de outros funcionários públicos, por outro lado, deverá ser também contra esse circo, esse casamento real da Bahia como empresariado nacional e internacional, numa Copa, que desviará bons quinhões do erário e dos interesses do estado da Bahia. Se não for assim, aquilo que poderia ser investido em saúde e educação, na melhoria e ampliação das universidades estaduais, por exemplo, escoará obscuramente numa Copa fantasiosa “para inglês ver”.
*Disponível em: http://greveuesb.blogspot.com/2011/05/desfiles-e-miserias-no-final-de-abril.html
**Doutor em Letras pela UFBA e professor Adjunto do DCHL/UESB
Do Palácio de Buckinghan à Abadia de Westminster, só riqueza e suntuosidade, do Campo Grande à Praça Castro Alves, só pobreza e miséria. Desfiles em mundos praticamente opostos repetem a nossa imensa realidade humana, paradoxal e triste, através de um figurino bem representativo. Lá, os chapéus, cabelos loiros ao vento, tiaras coloridas e os fabulosos bearskins da guarda real inglesa. Aqui, os cabelos crespos, guardas chuvas quebrados, que mal evitam a chuva insistente, mãos e bolsas nas cabeças para não estragar a “escova” e o “permanente”, boinas surradas e imundas da polícia militar, fingindo paciência com o trânsito caótico da Sete de Setembro e com as bolas vermelhas de palhaços, escondendo os narizes dos manifestantes.
Pela televisão e pelas ruas largas de Londres, 2 bilhões de pessoas acompanham ao casamento real britânico, como diz uma serelepe repórter da Globo; no comércio soteropolitano algumas dezenas de comerciários cansados e transeuntes se empurram em calçadas estreitas, desviando o olhar da passeata que mendiga atenção, repetindo, com indisfarçável cansaço, o jargão enfadonho do proletariado da educação. No alto, nas coberturas e nos imensos apartamentos do Campo Grande e Corredor da Vitória, a elite baiana não se importa com os bonecos gigantes e as placas em vermelho de Greve das universidades estaduais, e acompanha, em televisão de plasma, as notícias sobre a grande encenação real, o carnaval inglês, imaginando perfumes, os pradas, guccis, armanis, desfilando na passarela do mundo europeu (vontade de estar lá). O governador baiano, identificado com o primeiro mundo, na sua cobertura, versão baiana de palácio real, no alto de Ondina, desliga celular e telefone, para acompanhar “seus semelhantes” europeus - não saber de greve, vontade de ser príncipe, sentimento difuso de rei tropical, entre o pensamento de lord político á la Joaquim Nabuco e a filosofia de Maquiavel.
Lá em baixo, o mundo é diferente. O vermelho, um vermelho quase vinho, cardial, que em Buckinghan adorna os corpos do soldado e do príncipe William, acúmulo de sangue coagulado das chacinas bretãs, pinta a Avenida Sete na manifestação dos professores. Nessa chuva que cai hoje e derrete os morros, jogando barro em cima das pessoas das Cajazeiras e dos morros na capital baiana, o vermelho mais importante para o governador é o vermelho da cruz, que adorna a bandeira do Reino Unido.
O governador prefere viver nos sonhos do palácio de Ondina, na pompa inglesa, que parece antiga e tradicional, mas, como bem lembra os historiadores Hobsbawn e Ranger, foi forjada recentemente como símbolo de poder, inquestionável e cruel. Ele prefere viver na sua própria invenção de estado, cortando salários, impedindo as Universidades crescerem e os professores se aperfeiçoarem, dedicando seu tempo integral por um salário de miséria. Prefere viver no castelo de Caras da elite baiana, ideologicamente branca de olhos azuis, como a elite britânica.
Chove e inunda em todos nós uma sensação de que o mundo parou no século XVI. A elite política baiana imita a Europa, políticos brasileiros imitam nobres ingleses, como as mulheres brasileiras imitavam os chapéus das colonizadoras portuguesas no século XVI, os quais, distantes de qualquer moda ou senso estético, escondiam coros cabeludos empesteados de piolhos. “Wagner Nabuco Maquiavel”, nosso governador, quer ter seu desfile final, seu momento de príncipe em sua Copa de mentiras, quer mudar para Europa como Joaquim Nabuco sem sair do Brasil, a custa do sucateamento da educação. Sua única campanha é oferecer ao mundo, uma farsa, um show, uma ilusão de felicidade durante um mês de futebol, e deixar o Estado da Bahia tão pobre e miserável quanto estava antes.
Nossa campanha, a de professores e de outros funcionários públicos, por outro lado, deverá ser também contra esse circo, esse casamento real da Bahia como empresariado nacional e internacional, numa Copa, que desviará bons quinhões do erário e dos interesses do estado da Bahia. Se não for assim, aquilo que poderia ser investido em saúde e educação, na melhoria e ampliação das universidades estaduais, por exemplo, escoará obscuramente numa Copa fantasiosa “para inglês ver”.
*Disponível em: http://greveuesb.blogspot.com/2011/05/desfiles-e-miserias-no-final-de-abril.html
**Doutor em Letras pela UFBA e professor Adjunto do DCHL/UESB
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Reminiscência
Faxina de feriado. Alguém remexia as coisas velhas aqui em minha casa. Livros, cadernos, revistas, folhetos...tudo que for feito de papel e que se possa imaginar entulhado em um comodo de casa servindo de habitat para inúmeras espécies. Tudo foi revisado e arquivado antes de ser direcionado ou não para o lixo da segunda, é claro.
Nessa revisão, pude salvar algumas coisas antigas que eu tinha feito e/ou que me interessavam. Desenhos, livros antigos, cadernos de escola... Entre essas relíquias remanescentes do naufrágio, encontrei um pequenino texto que escrevi a quatro anos atrás. Achei válido postar ele aqui já que é uma lembrança boa que prova que eu sou "assim" tem algum tempo. Vale a ressalva de que quatro anos na vida de alguém que tem 22, é um bom tempo.
Pois bem', vamos ao texto:
02/11/2007
""Eu de mim mesmo, não sei quase nada, mas desconfio de muita coisa". E por motivo de "achar" me julgo sabedor. É que penso tanto nas coisas da vida, que minha cabeça dói, minha cabeça dói e meu ouvido sangra. De quando em vez me dá até fraqueza.
Mero devaneio... não sei. Digo, acho de despropósito enorme essas palavras. Já que - bem sei, pois me conheço - em breves dias já terão se perdido. Esquecidas. Amassadas num caderno qualquer, na melhor das hipóteses.
A quem quero enganar? Usando uma criatividade não própria, deixo eu de ser criativo. Ou será que não se reconhecer criativo já é criativismo? Mero devaneio... Êita vida besta..."
Pois bem'', eis o texto. É claro que modifiquei um pouco algumas frases que estavam com o sentido embaraçado e revi algumas concordâncias. Mas o cerne do texto continua o mesmo. Os erros de percepção e de entendimento estão lá como o de dizer "bem sei, pois me conheço". Como poderia? Mas enfim, eis o texto.
Curiosidade: Na folha de caderno na qual esse texto estava escrito havia também um desenho de um homem que possuía olhos de Homer Simpson, fumando um cigarro e com semblante triste. Havia ainda uma frase de profundidade e de caráter elucidativo muito grande. A frase dizia: " em briga de saci não tem rasteira". Vai saber...
Nessa revisão, pude salvar algumas coisas antigas que eu tinha feito e/ou que me interessavam. Desenhos, livros antigos, cadernos de escola... Entre essas relíquias remanescentes do naufrágio, encontrei um pequenino texto que escrevi a quatro anos atrás. Achei válido postar ele aqui já que é uma lembrança boa que prova que eu sou "assim" tem algum tempo. Vale a ressalva de que quatro anos na vida de alguém que tem 22, é um bom tempo.
Pois bem', vamos ao texto:
02/11/2007
""Eu de mim mesmo, não sei quase nada, mas desconfio de muita coisa". E por motivo de "achar" me julgo sabedor. É que penso tanto nas coisas da vida, que minha cabeça dói, minha cabeça dói e meu ouvido sangra. De quando em vez me dá até fraqueza.
Mero devaneio... não sei. Digo, acho de despropósito enorme essas palavras. Já que - bem sei, pois me conheço - em breves dias já terão se perdido. Esquecidas. Amassadas num caderno qualquer, na melhor das hipóteses.
A quem quero enganar? Usando uma criatividade não própria, deixo eu de ser criativo. Ou será que não se reconhecer criativo já é criativismo? Mero devaneio... Êita vida besta..."
Pois bem'', eis o texto. É claro que modifiquei um pouco algumas frases que estavam com o sentido embaraçado e revi algumas concordâncias. Mas o cerne do texto continua o mesmo. Os erros de percepção e de entendimento estão lá como o de dizer "bem sei, pois me conheço". Como poderia? Mas enfim, eis o texto.
Curiosidade: Na folha de caderno na qual esse texto estava escrito havia também um desenho de um homem que possuía olhos de Homer Simpson, fumando um cigarro e com semblante triste. Havia ainda uma frase de profundidade e de caráter elucidativo muito grande. A frase dizia: " em briga de saci não tem rasteira". Vai saber...
domingo, 3 de abril de 2011
Brevíssimo tratado político
Atualmente, e como tem sido durante muito tempo, a política internacional tem sido feita a partir de pressões, dissimulações e dissuasões. A política, entendida com práxis humana, traz consigo a característica indelével de apresentar-se como jogo de dominação: “dominação do homem pelo homem”, utilizando-se a fala de Weber. Sendo assim, na prática, a política internacional é realizada de modo a atender interesses particulares. Particulares em se tratando de nações e de pessoas.
A forma de relacionamento “diplomático” que as superpotências (principalmente os Estados Unidos da América do Norte) impõem às demais (e mais frágeis) nações, é no mínimo indelicado e inadequado, para não dizer bárbaro e violento. A tentativa, por parte dos EUA, de assegurar sua hegemonia no tocante às negociações internacionais, ficou evidenciada com o vazamento de documentos confidenciais através do site wikileaks, onde funcionários do alto escalão do governo americano faziam comentários deveras inadequados sobre inúmeras lideranças mundiais, além do fato de alguns diplomatas norte-americanos terem sido instruídos pelo próprio governo a coletar dados pessoais de autoridades estrangeiras. Isso denota a “deselegância” deste governo que na tentativa de manter seu poder, faz política externa a seu modo: o “american way of life” de sempre conseguir vantagens e benefícios próprios, não importando por cima “de que” ou de quem se deva passar.
Indubitavelmente, fazer política em qualquer instância, quer dizer disputar, concorrer, “tirar vantagem” e minimizar os danos a si próprio. É claro que nem sempre se pode fazer a “política da boa vizinhança”. Contudo, já que humanos somos, politizados num bom sentido somos e instruídos razoavelmente somos, é possível (malgrado o fato de ser muito improvável), conceber uma política externa de uma maneira menos prejudicial aos envolvidos, com negociações justas e claras, sem radicalismos e com foco no bem comum. O que é estranho é que em se tratando de política, quando utilizamos palavras com “justiça”, “clareza”, “bondade”, “transparência”... nos sentimos tão ingênuos que é mais fácil defender a barbárie travestida de diplomacia do que qualquer outra forma de pensamento político e ao fazê-lo lançamos mão da ideologia hegemônica, não para dominar, mas para sermos dominados.
A forma de relacionamento “diplomático” que as superpotências (principalmente os Estados Unidos da América do Norte) impõem às demais (e mais frágeis) nações, é no mínimo indelicado e inadequado, para não dizer bárbaro e violento. A tentativa, por parte dos EUA, de assegurar sua hegemonia no tocante às negociações internacionais, ficou evidenciada com o vazamento de documentos confidenciais através do site wikileaks, onde funcionários do alto escalão do governo americano faziam comentários deveras inadequados sobre inúmeras lideranças mundiais, além do fato de alguns diplomatas norte-americanos terem sido instruídos pelo próprio governo a coletar dados pessoais de autoridades estrangeiras. Isso denota a “deselegância” deste governo que na tentativa de manter seu poder, faz política externa a seu modo: o “american way of life” de sempre conseguir vantagens e benefícios próprios, não importando por cima “de que” ou de quem se deva passar.
Indubitavelmente, fazer política em qualquer instância, quer dizer disputar, concorrer, “tirar vantagem” e minimizar os danos a si próprio. É claro que nem sempre se pode fazer a “política da boa vizinhança”. Contudo, já que humanos somos, politizados num bom sentido somos e instruídos razoavelmente somos, é possível (malgrado o fato de ser muito improvável), conceber uma política externa de uma maneira menos prejudicial aos envolvidos, com negociações justas e claras, sem radicalismos e com foco no bem comum. O que é estranho é que em se tratando de política, quando utilizamos palavras com “justiça”, “clareza”, “bondade”, “transparência”... nos sentimos tão ingênuos que é mais fácil defender a barbárie travestida de diplomacia do que qualquer outra forma de pensamento político e ao fazê-lo lançamos mão da ideologia hegemônica, não para dominar, mas para sermos dominados.
domingo, 13 de março de 2011
Um bom jeito de se viver: Simple Man
Homem Simples (Lynyrd Skynyrd)- Link para letra e vídeo
Mamãe me disse quando eu era jovem
Venha sentar-se ao meu lado, meu único filho,
E escute com atenção o que eu digo.
E se você fizer isto irá lhe ajudar em algum belo dia.
Leve seu tempo... não viva tão rápido,
Dificuldades virão e passarão.
Vá encontre uma mulher e encontrará amor,
E não esqueça filho, Há alguém lá em cima. (Deus)
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
Esqueça seu desejo pelo ouro do homem rico
Tudo aquilo que você precisa está em sua alma,
E você pode fazer isto se você tentar.
Tudo aquilo que eu quero para você meu filho,
É estar satisfeito.
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
Menino, não se preocupe... você se achará.
Siga seu coração e nada mais.
E você pode fazer isto se você tentar.
Tudo que eu quero para você meu filho,
É estar satisfeito.
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
E seja um tipo simples de homem.
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Mamãe me disse quando eu era jovem
Venha sentar-se ao meu lado, meu único filho,
E escute com atenção o que eu digo.
E se você fizer isto irá lhe ajudar em algum belo dia.
Leve seu tempo... não viva tão rápido,
Dificuldades virão e passarão.
Vá encontre uma mulher e encontrará amor,
E não esqueça filho, Há alguém lá em cima. (Deus)
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
Esqueça seu desejo pelo ouro do homem rico
Tudo aquilo que você precisa está em sua alma,
E você pode fazer isto se você tentar.
Tudo aquilo que eu quero para você meu filho,
É estar satisfeito.
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
Menino, não se preocupe... você se achará.
Siga seu coração e nada mais.
E você pode fazer isto se você tentar.
Tudo que eu quero para você meu filho,
É estar satisfeito.
E seja um tipo simples de homem. (Refrao)
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
Você não quer fazer isso por mim filho,
Se você puder?
E seja um tipo simples de homem.
Seja algo que você ame e entenda.
Seja um tipo simples de homem.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Cavador de túmulos *
Essa semana assistia a uma entrevista do antropólogo Roberto DaMatta, concedida ao programa Roda Viva da TV Cultura, quando ele fez uma metáfora/analogia interessante. Dizia ele que uma biblioteca é como o cemitério, só que com uma diferença: na biblioteca agente pode abrir os túmulos sem que sejamos considerados criminosos, violadores de sepulturas etc... Acho incrível o fato de poder "entrar na mente" de gente que morreu a muito tempo, de gente que ta com o pé na cova e de gente que ta vivo ainda. Se pode, por exemplo, sei lá... cavar três túmulos de uma só vez lendo "O príncipe" comentado por Napoleão Bonaparte e pela Rainha Cristina da Suécia.
Já vi gente comparar livros a filhos, compará-los com memoriais, monumentos, personificações e até com anjos. Ja disseram que livros são como a materialização do supra-sumo da produção intelectual de alguém (o "filé da goiaba" do que alguém pensou, por assim dizer), contudo, a perspectiva de túmulos soou muito inspiradora para mim e acho que é dessa análise que vem aquela expressão "fulano revirou-se no túmulo", que é quando alguém é mal interpretado no que escreveu e não pode se defender.
*Tradução literal do termo "Grave Digger" que é o nome de uma banda alemã de Heavy Metal.
Link para a primeira parte da entrevista de Roberto DaMatta ao Roda Viva:
Click aqui
Já vi gente comparar livros a filhos, compará-los com memoriais, monumentos, personificações e até com anjos. Ja disseram que livros são como a materialização do supra-sumo da produção intelectual de alguém (o "filé da goiaba" do que alguém pensou, por assim dizer), contudo, a perspectiva de túmulos soou muito inspiradora para mim e acho que é dessa análise que vem aquela expressão "fulano revirou-se no túmulo", que é quando alguém é mal interpretado no que escreveu e não pode se defender.
*Tradução literal do termo "Grave Digger" que é o nome de uma banda alemã de Heavy Metal.
Link para a primeira parte da entrevista de Roberto DaMatta ao Roda Viva:
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