Trecho extraído do tratado sobre “Desobediência Civil” de Henry David Thoreau (1817 – 1862), obra publicada em 1848 que influenciou inúmeros pensadores do século XIX e XX (além de continuar suscitando reflexões significativas, é claro).
Em sua crítica ao governo e à forma de organização do Estado onde vivia, o autor sugere o enfretamento a estes utilizando as armas disponíveis ao cidadão comum, como o não pagamento dos impostos, que seria o atestado final de desaprovação à “ordem” social vigente. No fragmento abaixo, Thoreau apresenta uma das possibilidades que fariam valer o seu discurso de desobediência civil e afirmação da liberdade individual: o “desapego” ao dinheiro, por assim dizer.
“(...) Se houvesse quem vivesse inteiramente sem usar o dinheiro, o próprio Estado hesitaria em exigir que ele lhe entregasse uma quantia. O homem rico, no entanto - e não pretendo estabelecer uma comparação invejosa -, é sempre um ser vendido à instituição que o enriquece. Falando em termos absolutos, quanto mais dinheiro, menos virtude; pois o dinheiro interpõe-se entre um homem e os seus objetivos e permite que ele os compre; obter alguma coisa dessa forma não é uma grande virtude. O dinheiro acalma muitas perguntas que de outra forma ele se veria pressionado a fazer; de outro lado, a única pergunta nova que o dinheiro suscita é difícil, embora supérflua: "Como gastá-lo?”Um homem assim fica, portanto, sem base para uma moralidade. As oportunidades de viver diminuem proporcionalmente ao acúmulo daquilo que se chama de "meios". A melhor coisa a ser feita em prol da cultura do seu tempo por um homem rico é realizar os planos que tinha quando ainda era pobre. Cristo respondeu aos seguidores de Herodes de acordo com a situação deles. "Mostrem-me o dinheiro dos tributos", disse ele; e um deles tirou do bolso uma moeda. Disse então Jesus Cristo: "Se vocês usam o dinheiro com a imagem de César, dinheiro que ele colocou em circulação e ao qual ele deu valor, ou seja, se vocês são homens do Estado e estão felizes de se aproveitar das vantagens do governo de César, então paguem-no por isso quando ele o exigir. Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"; Cristo não lhes disse nada sobre como distinguir um do outro; eles não queriam saber isso”.
Texto na íntegra dísponivel em PDF: Clique aqui
Ver também, Evangelho de São Marcos 12,13-17.
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