Comecemos assim: ...é uma tarde de inverno na Bahia. Como essa terra é indiferente em relação a essa estação do ano! Lá fora cai uma chuva tímida, que desde a noite de ontem, me prende a minha casa (prefiro pensar que ela – a chuva insistente – quem me prende). Continuaremos a partir da chuva: a benção se cai na medida “certa”, a catástrofe se exagera na dose. A chuva que cai sobre “maus e bons”, segundo o sábio. A chuva que se retirou a algum tempo do norte, do sertão. Incrível como deixa de morar nas nuvens, para se esborrachar no chão, num vegetal, numa casa, em meu rosto, em meus cabelos e daí escorrer, ser absorvida ou apenas ficar “por aí”, em forma de vapor d’água.
Havia um certo tempo que eu não chovia. Isso mesmo, “chovi” uma noite dessas. Considerando o universo de possibilidades que um corpo que tem boa parte de sua massa constituída por líquidos e que pode liberar essa água das formas mais inusitadas, tratarei de explicar como se deu minha precipitação. Assim como o vapor de água atinge um momento crítico no qual se condensa e precipita, as emoções que mantive dispersas em mim em forma de vapor desordenado chegaram a um momento crítico e precipitaram em forma de lágrimas mudas, e um breve medo da loucura se abateu sobre mim, que me julgava tão equilibrado: como pode lágrimas tão sem propósito, ou ainda, como pode esse riso repentino que nem esperou que a “chuva” passasse?
Acordei na manhã seguinte, com aquele belíssimo dia cinza. Aquele turbilhão de sensações me veio como se tudo aquilo tivesse sido um sonho. Não foi. Não foi? A terra prova que choveu, pois está molhada. As lágrimas só nos deixam “mais inchados e vazios”, como diria Lobão, e só. E a loucura... Bom, a loucura me assiste enquanto eu digito cada uma dessas palavras.
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