quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sobre as edições humanas, filmes e arremedos de amor


Como muitos dos posts desse blog, esse eu escrevi há um tempo (alguns meses) e deixei guardado pra postar depois. Eu os deixo guardado como plano B quando surgirem as eventuais crises de criatividade. Acho que não é o caso, mas eu tenho que terminar uma missão literária antes de postar outra coisa!

Sem mais, ei-lo:

Ausência e Compreensão ou O Amor é Filme

Ame-o ou deixe-o”!

E quando amar é deixar? E quando se ama e deixa? A ausência, fruto do que não mais é nos ajuda um pouco com essas questões.

Tem aquele tipo de filme que ao terminar nos deixa parados, olhando para a tela, sem saber direito o que aconteceu ali. 5, 10, 15 segundos depois, a gente começa a perceber e a juntar os fatos, as cenas, os diálogos, e aí rola aquele aceno positivo com a cabeça que diz: “Puta que pariu! Esse é o filme”, ou aquele aceno negativo que diz: “Puta que pariu! Quero minhas duas horas de volta”. Assim, bem assim, acontece em nossas vidas. São basicamente essas as nossas reações depois que as coisas acabam, sejam elas quais forem, terminem elas como terminarem. O problema é que aqueles segundos até a compreensão do filme depois do seu final, quando transformados em tempo de compreensão do que aconteceu conosco em relação as nossas experiências “acabadas”, podem ser contados como dias, meses, anos... vidas.

Muitas vidas. As vezes nem parece a mesma vida. Vidas passadas, sei lá. Quem nunca pensou: “Se eu vivesse “tal época” da minha vida com “a cabeça” que eu tenho hoje eu faria um monte de coisa diferentemente”. Mas é essa a grande questão: Você só sabe o que faria porque você não vive mais aquilo. Você já viveu. A memória que você tem daquele tempo só revela a ausência daquele tempo. Você, hoje, é uma outra edição de si mesmo, relembrando Machado de Assis. Assim, de certa forma, tem que se haver a perda ou a ausência, para que haja uma compreensão do que aconteceu. E o tempo, brother, é severo e sempre nos deixará com essa impressão de que poderíamos ter feito diferentemente, de que poderíamos ter feito mais e melhor. Desse jeito, o melhor que podemos fazer, é nos apegar ao “porto seguro da memória”, aos resquícios do que vivemos, para que possamos retê-los e, ao mesmo tempo, deixá-los ir.

Deixar ir para compreender depois: isso não faz o menor sentido para os amantes. E nem poderia fazer. Quem ama não quer saber disso, quem ama só quer saber do... não quer saber de nada. E isso é bom. Sem mas*, só bom e simples. Digo até, prático. Mesmo assim, se morrer o que é sentido pelos amantes, “posto que é chama”, depois da contemplação da tela no momento em que os créditos sobem e no final de um tempo particular e de algumas lágrimas praticadas, brotará no espírito daqueles que a desejarem, a compreensão do que aconteceu. A calma compreensão do que aconteceu. E aí o que acontece? Deixo ir, mesmo amando. Deixo ir, pois agora compreendo ou deixei ir e agora compreendo (a segunda afirmativa deve se aproximar mais da verdade).

Eu não ia tornar o “amor romance” no cerne desse texto, mas não conseguir fazer diferente, por que

O amor é filme
Eu sei pelo cheiro de menta e pipoca que dá quando a gente ama
Eu sei por que eu sei muito bem como a cor da manhã fica
Da felicidade, da dúvida, dor de barriga
É drama, aventura, mentira, comédia romântica

Um belo dia a gente acorda e hum...
Um filme passou por a gente e parece que já se anunciou o episódio dois
É quando a gente sente o amor se abuletar na gente tudo acabou bem,
Agora o que vem depois

O amor é filme...

É quando as emoções viram luz, e sombras e sons, movimentos
E o mundo todo vira nós dois,
Dois corações bandidos
Enquanto uma canção de amor persegue o sentimento
O Zoom in dá ré e sobem os créditos
O amor é filme e Deus espectador!

"- A gente devia ser como o pessoal do filme, poder cortar as partes chatas da vida, poder evitar os acontecimentos!
Num é?!?!

...

Num é???
Caso o filme acabe, deixe, entenda, levante e vai jogar o saco da pipoca no lixo... se puder.

*É agora que confesso minha mentira: existe um “mas”, a saber, MAS quem ama? Quem sabe amar? Esse é o obstáculo posto entre o “amor” e a compreensão, que jamais seria realmente obstáculo para o amor (sem aspas), já que este dispensa a compreensão do que aconteceu, pois ele permanece, pois ele prevalece e nunca poderá ter acontecido, pois sempre acontece. Ainda assim, não restam dúvidas de que os humanos não são capazes de tal amor sem aspas. Somos capazes sim de “amores”, ou amor + mas.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Into the wild



"Os únicos presentes do mar são golpes duros ... e às vezes a chance de sentir-se forte. Eu não sei muito sobre o mar, mas sei que as coisas são assim por aqui. E também sei como é importante na vida não necessariamente ser forte, mas sentir-se forte, confrontar-se ao menos uma vez, achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana. Enfrentar a pedra surda e cega a sós, sem ajuda além das próprias mãos e da cabeça."