sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Sobre as casas que nos habitam

Eu tenho uma casa, bem na ladeira dos já fatigados
Uma casa bem grande e até que bonita, se vista de fora
Uma casa tão velha que é da idade das dores dos homens
Quem já morou nela se fez tão ingrato, mudou-se pra longe

Essa casa é feita de muros cerrados, tão altos, tão altos
Que é pra manter, distante, distante, qualquer um que seja
O portão que tem nela, deixei eu trancado já faz muito tempo
E a chave deste, trago eu oculta à minha maneira

Nessa casa que é minha, existe um jardim que é minha infância
Onde eu brincava e era feliz ingênuo de tudo
Passando por ele encontra-se a porta que dá para sala
Um vão deprimente sem qualquer mobília, sem nada, sem nada

Num canto, recôndito, o meu frio quarto que é onde me deito
Travo as mais vis batalhas contra o inimigo, o meu travesseiro
Por vezes acordo, não sei se é noite não sei se é dia
Por vezes me deito a me questionar o porquê da agonia

Há ainda um banheiro onde me lavo dos muitos pecados
Queria somá-los, mas até para isso me fiz fracassado
Dei voltas na casa e não encontrei sequer uma janela
Ninguém me perscruta e se há pecados arrasto-os nas sombras

Minha casa é isso, é tudo que tenho e tudo que posso
Não sei se sou casa ou se sempre vontade, sempre despedida
O retrato da casa é quase bonito, é quase canção
O relato da casa é o retrato vazio do meu coração