terça-feira, 16 de agosto de 2011

Sacrosociossanto

Nessa semana, vendo uma entrevista do Pondé no Roda Viva me atentei para o tema. O seu discurso não se debruçou a esse respeito, mas ele citou isso em um emaranhado de idéias que vociferava ao final do programa. O tema é “o papel social do cristianismo”.

Enquanto citava alguma coisa sobre igreja (coisa que eu não me lembro), Luiz Felipe Pondé falou sobre esse papel questionador da igreja. Falou sobre os profetas que nas suas palavras faziam uma crítica social (ao povo) e também uma crítica ao governo (que seria o nosso Estado). Essa sua fala me fez pensar sobre o tema...

Falar do velho testamento é falar da “Bíblia que Jesus lia”. Portanto, mesmo que eu fale de cristianismo posso me reportar a alguns dos profetas para elucidar esse histórico de confrontação entre o que é proposto pela religião e a ordem social vigente. Mesmo com essa justificativa, o exemplo dos profetas já foi citado, então vamos nos ater ao cristianismo do Cristo.

“Dai a Cesar o que é de Cesar e Deus o que é de Deus”: talvez seja essa a maior contraproposta a um Estado laico presente no novo testamento. Não é a instalação de um Estado laico a proposta desse texto. A função social da igreja não é a que estamos acostumados a ouvir em intervalos de tempo regulares, de quatro em quatro anos pra ser mais exato. A função social da igreja não é a de indicar alguns de seus membros a tomarem partido na disputa eleitoral e dizer que “povo de Deus vota em homens de Deus”. A função social da igreja extrapola o âmbito da política local e pontual e envolve uma questão ideológica que talvez seja uma premissa da fé cristã.

“E não vos conformeis com este mundo”. Logo esse “mundo” que causa tanta confusão na cabeça das pessoas. Música “do mundo”. “Quando eu era “do mundo””... Mas não é mundo mesmo? É mundo sim. Mas é a maneira de mundo, é o modo de vida. Não é a distinção entre o “meu mundo”, que professo a fé cristã e o mundo deles, que não professam. É a inconformidade em relação ao (E)estado das coisas. E nesse sentido, a crítica social que o cristianismo suscita é muito contundente. “Não ameis o mundo”. O modo de vida está distorcido, invente um novo pra você. Um que seja mais saudável. Um que seja menos afoito por dinheiro, carreira e alguns outros bichos.

Em um segundo momento, a função social da igreja sai do discurso e vai para a prática: “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo” (Tg 1:27). Isso é uma questão de estatuto da criança e de previdência social. É claro que na época a sociedade não estava organizada de modo a atender a necessidade dessa camada da sociedade: os desamparados. Assim, o cuidado com o próximo é um temática recorrente no N.T., onde assuntos como as esmolas e as visitas são abordados como pré-requisitos para o exercício da “boa religião”. Bom, agora eu terei que sair visitando e dando esmolas? Isso é com você. Mas aos membros de igrejas é indispensável saber que como instituição que foi fundada pelo amor, precisa irradiar amor. Amor em obras. Amor em assistência social sim! Pagamos impostos e uma parte (ainda que menor que a necessária ou suficiente, mas mal utilizada) vai para programas assistencialistas. E o dízimo? E a oferta?

Quem gosta da democracia não pode esquecer que se esta é construída sobre uma base de desigualdade social não é democracia. Quem gosta do cristianismo deve lembrar o que Jesus disse para o jovem rico (aquele lance do camelo). Ou seja, Jesus 1 X 0 Teologia da Prosperidade. Então agora eu serei franciscano? Não é bem assim, ou é, se você assim desejar ou se quiser produzir cerveja boa. A questão é que os cristãos devem estar atentos a realidade, apesar de que o reino não é deste mundo. Manter o equilíbrio, se atentar para as questões socias, fazer o possível para a construção de uma sociedade mais humana e se possível, com um toque de divindade. Inquietação em relação à temática social: passe adiante.